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Trocando Horas por Desejos: O custo invisível das compras

 

O preço de qualquer coisa é a quantidade de vida que você troca por ela (Henry David Thoreau, 1854)

 

O autor referenciado traz como reflexão pensarmos sobre o custo das coisas que queremos comprar em termos de horas de trabalho. Por exemplo: Se você recebe dez reais a hora, e quer comprar algo que custe dois mil reais, quantas horas do seu trabalho você terá que investir para tal? Ele nos faz buscar a conscientização de como estamos consumindo.

 

O impulso das compras é quase que hipnotizador. Nas explicações que Freud apresenta sobre essa neurose, compulsão não é simplesmente sinônimo de obsessão, mas diz respeito a uma peculiaridade de determinados sintomas obsessivos: trata-se de pensamentos ou atos que o sujeito realiza ainda que lhe pareçam um corpo estranho, pensamentos ou atos movidos por uma força irresistível contra a qual o sujeito gostaria de lutar. A compulsão, nesse caso, resulta de um conflito psíquico e de uma luta subjetiva entre duas injunções opostas, estando o sujeito impossibilitado de escolher qualquer uma delas. Encurralado nessa hesitação exasperante, a resposta do sujeito é o ato compulsivo – Freud o considera uma compensação da dúvida – que se produz como uma espécie de "vazamento": a imagem aqui seria a do suco de uma fruta que, de tão espremido, acabaria escoando pelos cortes feitos na casca (HANNS, 1996).

 

Poderíamos caracterizar a compulsão à repetição como um impulso avassalador ao qual sucumbe o sujeito, que passa então a justificá-lo por contingências da atualidade: é como se ele tentasse organizar o impulso cego segundo os ditames de uma "cena", buscando conteúdos capazes de preencher uma forma vazia, autônoma, e, em última instância, irredutível aos seus próprios conflitos.

 

A compulsão por compras, como tentativa (ainda que fracassada) de dizer não ao imperativo superegóico, origina-se diretamente da necessidade do indivíduo em compensar esses “vazios”, possibilitando a redução da tensão. Durante o ato de comprar, nenhum sentimento de culpa está presente, e o impulso é frequentemente associado a um forte componente emocional. No entanto, a diminuição das emoções negativas é temporária e é substituída por um aumento da ansiedade ou culpa.

 

Existe um mecanismo que está relacionado ao nosso sistema de recompensa, atuando sobre nossas respostas comportamentais e controle do comportamento afetivo, ativado sempre que fazemos alguma ação compensatória. Isso se dá, pois, a dopamina liberada nessa via e atuando no núcleo accumbens, promove a regulação do incentivo e da recompensa.

 

Os oniomaníacos têm o consumo como vício. Um desejo de possuir, de ter poder, que fica reprimido. Ao não conseguir dar vazão ao seu desejo, a pessoa sofre uma enorme pressão interna que a leva à necessidade de possuir coisas novas, como única forma de prazer”. A oniomania é um comportamento que vicia tanto quanto o consumo de álcool, tabaco ou outras drogas. O nome vem do grego: oné (comprar) mania (loucura).

 

A oniomania está classificada pela Organização Mundial de Saúde sob o CID 10 – F 63.8.

 

Daniela Egéa

Psicóloga Clínica

Especialização em Intervenção Familiar Sistêmica

Atuação em Dependências/Compulsões

Idealizadora do Projeto Famílias em (re)construção

siga: @danielaegeagarcia.psico

parceira pesquisadora @educadq

 

GONDAR, J. Sobre as compulsões e o dispositivo psicanalítico. Ágora: Estudos Em Teoria Psicanalítica, 4(2), 25-35. https://www.scielo.br/j/agora/a/CxvRDvDVz7v933JzvYbsjdb/#

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION - APA. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5. Porto Alegre: Artmed, 2014.

ICD-10 Version: 2019. Disponível em: <https://icd.who.int/browse10/2019/en>. Acesso em 07 jun. 2021.